2017/08/04

Arrependimento 2

Texto: "Suporto tristeza por causa do meu pecado" (Sl 38.18)


Queridos semana passada iniciei uma serie chamada Arrependimento, acredito que esse tema não é um tema que seja agradável aos ouvidos de muitos cristãos modernos.

Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. 2 Timóteo 4:3

Mas graças a Deus não fui chamado para agradar as pessoas e sim compartilhar a palavra de Deus mesmo que essa a confronte e traga desconforto. É melhor um desconforto momentâneo do que uma desconforto eterno no inferno. É melhor um dura verdade do que uma doce mentira.

Semana passada disse a vocês que arrependimento vem do termo metanoia, ou seja mudança de mente, de postura, de atitude de rota, e todo crente verdadeiro passou, passa e passará pelo processo de arrependimento. Faz parte do caminhar do cristão e do vocabulário do Cristão.

O próprio Cristo ao anunciar as boas novas anunciava o arrependimento.

"Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus." (Mateus 4:17)

 Comparei o arrependimento a um remédio espiritual formado de seis componentes especiais… Se um for deixado fora, o arrependimento perde o seu poder. Trabalhei apenas 1 componente desse remédio...

Componente 1: Percepção e convicção do pecado. Antes de lamentarmos pelo pecado, temos de vê-lo. Disso, podemos inferir que, onde não percepção do pecado, não pode haver arrependimento. Muitos que acham falhas nos outros não vêem nenhum erro em si mesmos… Pessoas são vendadas por ignorância e amor próprio. Por isso, não vêem o que deforma a sua alma. O Diabo faz com elas como o falcoeiro faz à sua ave: ele as cega e as leva encapuzadas ao inferno.

Hoje vamos trabalhar mais dois componentes.

Componente 2: Tristeza pelo pecado.

"Suporto tristeza por causa do meu pecado" (Sl 38.18). Ambrósio chamava essa tristeza de amargura da alma. A palavra hebraica que se traduz por ficar triste significa "ter a alma, por assim dizer, crucificada". Isso precisa estar presente no verdadeiro arrependimento, como se sentissem os cravos da cruz penetrando o seu lado.

O arrependimento produz tristeza. Já expliquei semana passada que não tem nada a ver com remorso. Estou falando de uma tristeza verdadeira. Uma mulher pode esperar ter um filho sem dores, assim como alguém pode esperar arrepender-se sem tristeza.

Aquele que crê sem duvidar, põe sob suspeita a sua fé; aquele que se arrepende sem entristecer-se nos deixa incertos de seu arrependimento…

 Esta tristeza pelo pecado não é superficial; é uma agonia santa. Nas Escrituras, ela é chamada de quebrantamento de coração: "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (Sl 51.17); um rasgamento do coração: "Rasgai o vosso coração" (Jl 2.13).

As expressões bater no peito (Jr 31.19;

De fato, depois de desviar-me, eu me arrependi; depois que entendi, bati no meu peito. Estou envergonhado e humilhado porque trago sobre mim a desgraça da minha juventude'. Jeremias 31:19

"Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: 'Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador'. Lucas 18:13

 cingir o cilício Vestes de lamento (Is 22.12), arrancar os cabelos (Ed 9.3) – todas essas expressões são apenas sinais exteriores de tristeza.

Contudo, nem toda tristeza evidencia o verdadeiro arrependimento… os fariseus acusaram jesus e rasgaram suas vestes em sinal de tristeza, mas todos nós sabemos que era tudo uma falsidade, pois estavam condenando o nosso Senhor injustamente.

 Isso nos mostra que apesar do arrependimento poder ser exteriorizado de várias formas externamente o que importa mesmo é o interior

 Há seis descrições de uma verdadeira tristeza que produz o genuíno arrependimento:

1. A verdadeira tristeza espiritual é interior. 

É interior em duas maneiras: (1) é uma tristeza de coração. A tristeza dos hipócritas evidencia-se somente em sua face. "Desfiguram o rosto" (Mt 6.16). Mostram um rosto melancólico, mas a tristeza deles não vai além disso, como o orvalho que umedece a folha, mas não penetra a raiz.

A tristeza segundo Deus avança mais além; é como uma veia que sangra internamente. O coração sangra por causa do pecado – "Compungiu-se lhes o coração" (At 2.37).

Assim como o coração tem a parte principal no ato de pecar, o mesmo deve acontecer no caso do entristecer-se. Paulo lamentava por causa da lei em seus membros.

mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Romanos 7:23,24

Aquele que lamenta verdadeiramente o pecado se entristece por conta das incitações do orgulho e da concupiscência. Ele se entristece por causa da "raiz de amargura", embora ela nunca prospere até ao ponto de levá-lo a agir. Um homem ímpio pode sentir-se atribulado por pecados escandalosos; um verdadeiro convertido lamenta os pecados do coração.

2. A tristeza espiritual é sincera. 

É a tristeza pela ofensa, e não pela punição. A lei de Deus foi infringida, e seu amor, abusado. Isso leva a alma às lágrimas.

Uma pessoa pode ficar triste e não se arrepender. Um ladrão fica triste quando é apanhado, mas não por causa do roubo, e sim porque tem de sofrer a pena…

 A tristeza piedosa se expressa principalmente por causa da transgressão contra Deus. Portanto, se não houvesse uma consciência a ferir, um diabo a acusar, um inferno para servir de castigo, a alma ainda se sentiria triste por causa da ofensa praticada contra Deus…

Oh! que eu não ofenda o meu bom Deus, nem entristeça o meu Consolador! Isso parte o meu coração!…

3. A tristeza espiritual Deus é repleta de confiança. É mesclada com fé… A tristeza bíblica afundará o coração, se a roldana da fé não o erguer. Assim como o nosso pecado está sempre diante de Deus, assim também a promessa de Deus tem de estar sempre diante de nós…

se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra.2 Crônicas 7:14

4. A tristeza espiritual é, em alguns casos, acompanhada de restituição. Aquele que, por injustiça, errou contra outrem, em seus bens, lidando com fraude, deve em sã consciência realizar a compensação. Há um mandamento claro quanto a isso: "Confessará o pecado que cometer; e, pela culpa, fará plena restituição, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado" (Nm 5.7). Por isso, Zaqueu fez restituição: "Se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais" (Lc 19.8).

5. A tristeza espiritual é permanente. Não são algumas lágrimas derramadas ocasionalmente que servirão. Alguns derramarão lágrimas ao ouvirem um sermão, mas isso é como uma chuva de abril – logo acaba – ou como uma veia aberta e fechada novamente. A verdadeira tristeza tem de ser habitual. Ó cristão, a doença de sua alma é crônica, e a recaída, freqüente. Portanto, você tem de tratar-se com remédio continuamente, por meio do arrependimento. Essa é a tristeza "segundo Deus".

Componente 3: Confissão de pecado. A tristeza é um sentimento tão forte, que terá expressões. Suas expressões são lágrimas nos olhos e confissão nos lábios. "Os da linhagem de Israel… puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados" (Ne 9.2). Gregório de Nazianzo chamou a confissão de "um bálsamo para a alma ferida".

A confissão é auto-acusadora. "Eu é que pequei" (2 Sm 24.17)… E a verdade é que por meio desta autoacusação impedimos Satanás de acusar-nos.

Em nossas confissões, nos identificamos com orgulho, infidelidade e paixão. Assim, quando Satanás, chamado de acusador dos irmãos, lançar essas coisas contra nós, Deus lhe replicará: "Eles já acusaram a si mesmos. Então, Satanás, você está destituído de motivos legítimos; suas acusações surgiram muito tarde…" Agora, ouça o que diz o apóstolo Paulo: "Se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados" (1 Co 11.31).

Entretanto, homens ímpios, como Judas e Saul, não confessaram seus pecados? Sim, mas as suas confissões não eram verdadeiras. Para que a confissão de pecado seja correta e genuína, estas… qualificações precisam estar presentes:

1. A confissão tem de ser espontânea. Tem de surgir como a água que brota do manancial, livremente. A confissão do ímpios é obtida à força, como a confissão de um homem sob tortura. Quando uma faísca da ira de Deus atinge a consciência dos ímpios ou estão sob o temor da morte, eles se prostrarão em confissão… Mas a verdadeira confissão flui dos lábios tal como a mirra jorra da árvore ou o mel da colméia, espontaneamente…

2. A confissão tem ocorrer com contrição. O coração precisa ressentir profundamente o pecado. As confissões de um homem natural procede de seu íntimo assim como uma água que passa por um cano. Elas não o afetam de maneira alguma. Mas a confissão verdadeira deixa impressões que pungem o coração. Ao confessar seus pecados, a alma de Davi sentiu-se sobrecarregada: "Já se elevam acima de minha cabeça as minhas iniquidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças" (Sl 38.4). Uma coisa é confessar o pecado, outra coisa é sentir o pecado.

3. A confissão tem de ser sincera. Nosso coração precisa estar em harmonia com a confissão. O hipócrita confessa o pecado, mas o ama, assim como um ladrão que confessa os bens roubados e continua a amar o roubo.

Quantos confessam o orgulho e a cobiça, com seus lábios, mas se deleitam neles ocultamente… Um verdadeiro cristão é mais honesto. Seu coração anda em harmonia com usa língua. Ele é convencido dos pecados que confessa e detesta os pecados dos quais é convencido.

4. Na confissão verdadeira, o crente especifica o pecado. O ímpio reconhece que é um pecador como todos os outros. Ele confessa o pecado de maneira geral… Um verdadeiro convertido reconhece seus pecados específicos. Ele se comporta à semelhança de uma pessoa enferma que vai ao médico e lhe mostra as feridas, dizendo: "Levei um corte na cabeça, recebi um tiro no braço".

O pecador entristecido confessa as diversas imperfeições de sua alma… Por meio de uma inspeção diligente de nosso coração, podemos achar alguns pecados específicos que tratamos com indulgência. Confessemos com lágrimas esses pecados, indicando-os pelo nome.

5. Um pessoa verdadeiramente arrependida confessa o pecado em sua fonte. Ela reconhece a contaminação de sua natureza. O pecado de nossa natureza não é somente uma falta do bem, mas também uma infusão do mal… Nossa natureza é um abismo e uma fonte de todo mal, dos quais procedem os escândalos que infestam o mundo. É essa depravação de natureza que envenena nossas coisas santas. Isso traz os juízos de Deus e paralisa em sua origem as nossas misericórdias. Oh! Confesse o pecado em sua fonte!…

 

 

 

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