2019/02/24

Mentoria / Discipulado.

Mentoria e Discipulado é um processo de desenvolver o caráter de Cristo em outros. Se refere a um relacionamento entre uma pessoa mais experiente e outra geralmente mais nova e do mesmo sexo, no intuito de caminhar juntos e prover auxílio ao mentoreado nas diversas áreas da vida.

Esse desenvolvimento do caráter não se dá de forma teórica apenas, mas de forma prática proporcionando experiências (segundo o modelo que Jesus usou com seus discípulos).

 Isso pode ser melhor entendido da seguinte forma:

Você já andou de carro por uma estrada em que a neblina era tanta que você mal conseguia enxergar três metros à sua frente? Essa experiência pode ser pavorosa. Mas, se houver outro carro a sua frente e você puder seguir as lanternas dele, dirigir em meio à neblina pode não ser algo tão assustador assim.

Isso é mentoreamento, é fornecer luz, é guiar, é dar a direção e seguir junto em meio aos obstáculos que vão surgindo. O mentor é alguém que realmente faz a diferença na vida do mentoreado, através de um relacionamento profundo e de acréscimo.

Podemos ver na Bíblia vários exemplos de mentoreamento, por exemplo: 

Moisés e Josué (Ex 24.13; Dt 31.1-8), 

Elias e Eliseu (1 Rs 19.19-21; 2 Rs 2.1-16), 

Barnabé e Saulo (Paulo) (At 9.26-30, 11.22-30), 

Paulo e Timóteo (At 16.1-3; Fp 2.19-23; 1 e 2 Tm).

Nesse momento você pode estar se perguntando "Isso não seria discipulado? Em que o mentoreamento difere do discipulado? É apenas um rótulo para discipulado?". Não é bem assim, vamos esclarecer um pouco mais as coisas!

Ao nos voltarmos para o significado raiz das palavras entenderemos melhor. A palavra discípulo, segundo alguns dicionários, significa "aquele que recebe ensino de alguém ou segue as idéias e doutrinas de outro; aluno, estudante, aprendiz". Podemos ainda nos aprofundar mais e perceber a corroboração da palavra em sua origem, a palavra discípulo do grego "Mathetes" do verbo "Mathano", significa aprender. Já a palavra mentoreamento significa "guiar, ensinar, aconselhar outro, orientar um jovem". Originalmente o Mentor, nome próprio, é um personagem do poema épico de Homero, A Odisséia. Mentor é designado por Ulisses – o qual vai à Guerra de Tróia – a ser o guardião, tutor, supervisor de seu filho, Telêmaco. Os autores do livro "Como o ferro afia o ferro"² distinguem mentoreamento e discipulado da seguinte forma:

Qual é a diferença entre mentoreamento e discipulado? Ambos se relacionam, mas não são exatamente iguais. O discipulado inclui um chamado, um convite direto de um professor que beira uma ordem. Jesus disse aos pescadores Pedro e André: "Sigam-me"; e "no mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram". Depois ele encontrou por acaso seus colegas, Tiago e João. Novamente, "Jesus os chamou, e eles, deixando imediatamente seu pai e o barco, o seguiram". O mesmo padrão se repetiu com o resto dos Doze. (…)

O discipulado, como vemos hoje em dia, tende a limitar seu foco a dimensão espiritual. (…) O mentoreamento, pelo menos quando praticado por cristãos, deveria centrar tudo em Cristo. Mas o mentoreamento trata menos de instrução do que de iniciação – levar homens à maturidade. Enquanto a palavra para discípulo significa "aprendiz", a palavra mentoreado vem de uma palavra latina que significa "proteger"

"É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se." Eclesiastes 4:9,10

Um discípulo está para o mestre assim como o servo ao senhor, um mentoreado está para o mentor assim como um sobrinho ao tio. Um relacionamento mais íntimo e de acompanhamento não só de uma área, mas que engloba o todo.

Na verdade, não existe essa história de discipulado versus mentoreamento, ou ainda, mentoreamento versus aconselhamento, eles funcionam melhor ao andarem juntos. Podemos considerar termos distintos? Sim, podemos. Podemos considerar uma sobreposição? Sim, também podemos. Importa menos os termos e mais a essência e a atitude. Se relacionar a ponto de poder contribuir para o desenvolvimento de alguém, de orientá-lo, de não ser apenas professor, mas de fazer parte da vida de outro, certamente é um padrão bíblico que devemos seguir. Por conta disso usarei o termo discipulado a partir de agora tanto para mentoria como para discipulado.

Discipulado é relacionamento

A primeira coisa importante sobre discipulado é que ele não existe se não houver relacionamento. Algumas coisas são muito mais captadas do que ensinadas. Como você aprendeu sua primeira linguagem? Simples, você cresceu em uma família que falava a língua ou foi cercado por uma cultura que o fazia. Você absorveu a linguagem daqueles ao seu redor.

Do mesmo modo, nosso relacionamento com Cristo é muito mais captado do que ensinado. É claro que podemos aprender a partir de livros e lições, mas somos moldados pelas pessoas. Se eu perguntasse a você sobre as maiores influências de sua vida espiritual, você não citaria o nome de um livro ou um sermão, mas sim o nome de uma pessoa (ou várias). Nós somos moldados pelos cristãos ao nosso redor.

Assim como um bebê que não tem nenhum contato com outros humanos não poderia aprender a falar, se não tivermos em relacionamento com outros cristãos, ficaremos seriamente atrofiados no nosso crescimento. Esse é o motivo pelo qual Deus nos colocou em uma família espiritual chamada Igreja. Leia o capítulo final de 1 Coríntios ou Romanos e veja como Paulo cita os nomes de cristãos que ele conhece, chamando-os de irmãos e irmãs.

O próprio Jesus gastou tempo com seus doze. Os doze aprenderam na prática os ensinamentos do seu mestre porque a Palavra diz que Jesus chamou seus discípulos para "estar com ele". À medida em que estudamos os Evangelhos, fica muito claro que Jesus fazia uso de cada situação para investir em seus discípulos. Quando ele ministrava às multidões, eles estavam observando e aprendendo. Mais tarde, em particular, enquanto Jesus estava às sós com seus discípulos, eles poderiam perguntar a ele acerca do que foi ensinado e era claro que eles tinham um nível mais profundo de discipulado.

Acredito que Jesus também investiu muito tempo individualmente (um a um) com seus discípulos. Jesus viajava muito com eles; muitas vezes, 20, 30 ou 50 quilômetros entre cidades e vilarejos. Durante essas viagens, horas e horas de discipulado precioso poderiam estar acontecendo, já que eles estavam longe das multidões. Era óbvio que era praticamente impossível falar com 12 pessoas ao mesmo tempo durante uma viagem caminhando, então eu creio que muito desse discipulado profundo de Jesus estava no campo individual.

Paulo também tinha o mesmo objetivo: cada pessoa individualmente discipulada até alcançar a maturidade em Cristo! 

Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós. Atos 20:31 (no verso 30, ele os chama de discípulos).

A quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo. Colossenses 1:28

Por conta disso a fim de ser eficaz no fazer discípulos, a igreja deve promover relacionamentos autênticos.

TODO LÍDER É UM MENTOR

Seu chamado para a liderança inclui um chamado para ser mentor. Por que? Porque ambos vêm num só pacote. Lembre-se que o produto principal de um líder cristão é a criação de novos líderes. Esta é a parte prioritária de sua descrição de trabalho.

Em II Timóteo 2:2, diz assim: E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.

Isto é, se você recebe o chamado para assumir um cargo de liderança bíblica, como Pastor ou Presbítero, também é chamado para ser mentor. Você se sente competente? Possivelmente não. Não seria agradável sentir-se competente? Não. Ou seria arrogância. Nem sequer o apóstolo Paulo se sentiu competente. "não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança,…" II Corintios 3:5-6 Como um equilibrista com sua vara, devemos agarrar-nos destas duas realidades: - Nunca serei competente para função alguma no reino de Deus. – Pela graça divina, posso fazer tudo. O assunto é o chamado, não a competência. "Mas, pela graça de Deus, sou o que sou." I Cor. 15: 10

Nossos defeitos são necessários Graças a Deus pelos defeitos dos personagens bíblicos. Sem eles, careceríamos de um conceito global da realidade do ministério. Deus tem sua caixa de ferramentas para aperfeiçoar seus filhos. Umas destas ferramentas são nossas próprias faltas. O Senhor não leva em conta nossa própria bondade para conseguir algo. O que deseja é nossa disposição para fazer sua vontade. Deus usa até os nossos defeitos pessoais no processo de preparar líderes. Deus derramou sua unção e proceda de acordo com isso. Por que razão Deus nos chamaria para o ministério sem ter equipando-nos para a obra?

"A Bíblia nos diz: Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós,…" 1João 2:27

"porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis." Romanos 11:29

Para ser um Mentor e discipular vidas é necessário entender que o mentor precisará ter algumas caraterísticas:

1. Disposição

A pessoa que quer ensinar outra a ser seguidora de Jesus Cristo tem que ter disposição convicta em sua vida de que está fazendo um serviço para seu Senhor e Salvador e que investir sua vida em outra vida é um dom precioso que o Espírito Santo nos concede em sua maravilhosa graça.

A disposição vai te tirar da cama mais cedo para orar pela nova ovelha. Deus vai te dar disposição para sacrifícios de tempo. Vai te dar energia para se relacionar fazendo concessões. Disposição importa porque é o dínamo que te impulsionará a seguir em frente mesmo quando não puder vislumbrar o resultado de seu discipulado.

2. Compromisso

Esta é a parte onde você abre sua agenda pessoal para dar um importante espaço para um encontro especial com aquela pessoa que você quer ver moldada à imagem de Jesus Cristo. Então, esteja chovendo ou não, esteja alegre ou triste, aquele dia e horário são dedicados àquele encontro com a pessoa que o Senhor designou para você cuidar. Portanto, faça isso com zelo.

A pessoa que está aprendendo sobre como se tornar uma cristã está ansiosa para ter sua vida transformada, e você é o instrumento que Deus está usando para que isso seja realizado.

3. Amor

Amor é a essência de tudo. Deus é amor. É por amor que você discípula alguém. Primeiro você mesmo é amada pelo Senhor e, porque ele te amou e morreu em seu lugar, você pode amá-lo e viver para ele. Agora você quer que outras pessoas o amem, o sigam e sejam como ele. Então Deus faz brotar em seu coração o amor pelo próximo, e esse amor é o motor do discipulado.

O amor não é aquele sentimento cor-de-rosa que suscita fortes emoções e suspiros profundos. O amor é sacrifício, dedicação, ação e transpiração. É o amor que faz a roda do discipulado girar. Sem amor nada somos, nem seremos.

Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. João 15.13

4. Intenção

Você pode andar com uma irmã da igreja, ir a sua casa, comer em sua mesa, conhecer sua família, seus relacionamentos, conversar com ela sobre teologia e doutrina, falar sobre como deve ser a vida cristã, mas nada disso é discipulado se não houver intenção de tornar essa pessoa seguidora de Jesus Cristo.

Ah, não entendi?! A instrução, correção, educação, exortação têm que ter o propósito explícito de tornar alguém uma seguidora de Jesus Cristo, tem que haver aliança, compromisso de ambas as partes, um selo. Sem intenção não há discipulado, há apenas uma conversa sem objetivos.

5. Misericórdia

Esta é a parte onde temos que perdoar setenta vezes sete. Os nossos pecados, geralmente, se voltam para quem está mais próximo e assim será no discipulado. Quem discípula será alvo certo do aprendiz. As imperfeições de quem aprende se manifestarão no convívio, na proximidade e na convivência entre discipuladora e discípula. Então, haja misericórdia para perdoar assim como Jesus nos perdoou.

Para finalizar estes pontos, quero lembrá-la de que, em todas as coisas que realizamos, é o Senhor que nos concede graça, e no discipulado ele faz isso claramente e em abundância. Portanto, não hesite em praticar aquilo que o Senhor nos ordena fazer, pois ele mesmo nos sustentará, como ele já prometeu fazer, todos os dias de nossas vidas

Uma Geração é responsável pela seguinte 

"Uma geração contará à outra a grandiosidade dos teus feitos; eles anunciarão os teus atos poderosos." Salmos 145:4

Todos nós somos responsáveis pela geração emergente, por disciplinar e transmitir tudo o que Deus tem nos ensinado. Discipulado é uma experiência de relacionamento de intimidade com alguém que se conhece bem, que modela princípios de Deus e pode conduzir o discípulo a um encontro com o Deus vivo, dia a dia, momento a momento.

Há muitas crianças e jovens vivendo sem pessoas que sirvam de modelo e discipuladores da conduta de Deus. Esse tremendo privilégio e responsabilidade não podem ser para poucos. Para ganhar uma nação, temos que alcançar a próxima geração, e o discipulado é o meio que Jesus nos orientou a usar.

BUSQUE UM MENTOR/ DISCIPULADOR PARA CUIDAR DE VOCÊ

Como encontrar um mentor? Não é fácil. Na verdade, esse relacionamento é um presente divino, algo parecido com o que Jesus indica, quando diz para os discípulos, seus mentoriados em

"Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome." João 15:15-16

No entanto podemos dar alguns passos concretos na busca de um mentor. Recomendo os seguintes passos:

1)    Faça uma lista de 3 pessoas que poderiam, de alguma forma, ajudá-lo nesse papel. Ainda que não sejam perfeitas, quais seriam as três melhores opções de pessoas cuja a vida já está conectada de alguma forma com a sua ou que você poderia fazer ajuste para que assim fosse?

2)    Priorize as pessoas em oração, para então ir atrás da primeira e pedir que ela ore sobre ter um encontro inicial para conversar acerca da possibilidade de ser seu mentor. (discipulador, ou líder pastoral)

3)    Se a pessoa aceitar, faça uma experiência de 3 a 6 meses. Se a experiência for positiva, glória a Deus! Se não for passe para a segunda pessoa em sua lista e repita o processo.


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