2021/09/08

Serie +1: Todos em missão+ Evangelho

Introdução a série

Há mais de 2 mil anos, diante de nossa vida corrida e cheia de desafios, somos lembrados que o Senhor de nossas vidas nos deixou uma tarefa especial: alcançar e conduzir pessoas para o Evangelho, assim como Cristo está em movimento constante por amor ao ser humano. A partir de hoje, intensificamos um movimento missional a fim de alcançar mais um ao amor salvador de Cristo. 

Introdução ao tema

O Evangelho tem sido uma das palavras mais faladas e comentadas nos últimos anos nos círculos cristãos. Igreja centrada no evangelho, pregação centrada no Evangelho, enfim, a preocupação e o cuidado para não se desviar do Evangelho tem ocupado parte das reflexões.

No entanto, responder à pergunta "O que é o Evangelho?", pode ser determinante, não só para a igreja, mas, especialmente, para sua vida. Em meio a tantas definições ou tentativas de definir o que é o Evangelho, vamos olhar juntos para as Escrituras buscando não só uma resposta à pergunta, mas uma resposta à nossa vida.

Lucas 5:27-32 - 27Depois disso Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no lugar onde os impostos eram pagos. Jesus lhe disse: — Venha comigo. 28Levi se levantou, deixou tudo e seguiu Jesus. 29Então Levi fez para Jesus uma grande festa na sua casa. Havia ali muitos cobradores de impostos, e outras pessoas estavam sentadas com eles. 30Os fariseus e os mestres da Lei, que eram do partido dos fariseus, ficaram zangados com os discípulos de Jesus e perguntaram: — Por que vocês comem e bebem com os cobradores de impostos e com outras pessoas de má fama? 31Jesus respondeu: — Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. 32Eu não vim para chamar os bons, mas para chamar os pecadores, a fim de que se arrependam dos seus pecados. (NTLH)

O capítulo 5 do Evangelho de Lucas inicia com o chamado dos discípulos seguido da cura de um leproso e um paralítico. Na sequência, Lucas relata que Jesus viu um publicano e faz o convite que muda completamente sua vida.

O famoso pintor italiano Caravaggio pintou essa cena em seu quadro "O Chamado de Mateus" que, desde 1600 integra as obras da Capela Contarelli, em Roma. Vale a pena dedicar algum tempo analisando essa obra e percebendo os detalhes apontados pelo artista. (Apenas São Mateus enxerga o Cristo e reconhece o seu chamado. Alguns olhares estão tão atentos em contar o dinheiro que nem o percebem. Outros percebem uma presença, mas não reconhecem, não enxergam o Cristo. Alguém chega a passar perto de Cristo, mas está visivelmente desatento.)

Levi, também chamado Mateus, era publicano. Publicanos e pecadores eram considerados pessoas não-santas, impuras. Diferentemente dos outros dois: fariseus e discípulos de João Batista, que eram considerados pessoas boas e moralmente corretas.

Assim como o paralítico foi imediatamente curado (Lucas 5.17-26) e, assim, levantou, pegou sua cama e foi para casa após Jesus declarar o perdão dos pecados chamando o homem para levantar-se, Levi é chamado a levantar-se da coletoria e seguir a Jesus.

Esse texto nos esclarece alguns pontos cruciais para entendermos o que é o Evangelho:

1 - O EVANGELHO É UMA NOTÍCIA

O mundo está empapuçado de más notícias. Tem um prazer mórbido de se alimentar com as informações dragadas do submundo do crime, da corrupção e da violência. Notícia boa não vende jornal nem desperta interesse. O homem corrompido refestela-se com os petiscos imundos do pecado. Mas o evangelho não é esse tipo de notícia.

A definição do Evangelho é como "boas novas" remete à figura de um mensageiro que anuncia um grande evento histórico para determinado povo, normalmente, a vitória de uma batalha ou a coroação de um rei.

Dessa forma, o Evangelho é o anúncio do que Deus fez para cumprir a salvação através de Jesus Cristo na história.

O evangelho trata das boas novas de salvação num mundo imerso na mais completa perdição. O homem morto em seus delitos e pecados é escravo da carne, do mundo e do diabo. É filho da ira e caminha para a perdição. Está no reino das trevas e sob a potestade de Satanás. Sem qualquer mérito existente nesse homem, Deus o amou. Mesmo sendo inimigo de Deus, o próprio Deus caminhou na sua direção para reconciliá-lo consigo mesmo por meio de Cristo Jesus. O Evangelho, portanto, é Deus buscando o perdido. É Deus abrindo para o pecador um novo e vivo caminho para o céu. O evangelho é a expressão da graça de Deus, manifestada em Cristo, aos pecadores perdidos.

Não é o anúncio do que podemos fazer para conquistarmos a salvação, pois não podemos conquistá-la. Somente aceitamos. O evangelho é a boa notícia de algo que já aconteceu e que é capaz de nos transformar.

O Evangelho é a boa notícia do que Deus fez na cruz, em Cristo. A convergência de toda a história. O cumprimento do plano eterno para a humanidade.

Mt 4.16 - "O povo que andava em trevas, viu grande luz."

Como notícia o Evangelho deve ser anunciado, ou seja, compartilhado para tornar-se conhecido por todas as pessoas. A Escritura afirma que "a fé vem pelo ouvir" Rm 10.17.

A presença de Jesus, encarnado, diante de Mateus chamando "Siga-me" é o anúncio do Evangelho para aquele que, até então, não era conhecido por sua piedade, religiosidade ou aspectos que o identificassem com o Messias.

2 - A IMPLICAÇÃO DO EVANGELHO É DEIXAR

O texto é claro e objetivo ao afirmar a postura de Levi, ou Mateus, ao ser confrontado por Jesus. "Levantar e deixar tudo" revela uma característica da radicalidade do discipulado que é deixar: o velho modo de vida.

Ele era um funcionário, trabalhava coletando impostos para os romanos, profissão mal vista pelo seu povo. Deixou tudo. Tudo o quê? Tudo o que representava segurança, estabilidade, ser um elo na rede de arrecadação pública de impostos. Largou isso. Deu outro rumo à sua vida. Para Levi, no chamado de Jesus ao discipulado, deixar tudo incluía mudar valores essenciais sobre sua vida, rotina, inclusive trabalho. Como cobrador de impostos havia um sério comprometimento da sua ética no que diz respeito à forma como ele se relacionava com seus compatriotas.

Ao receber a boa notícia do Evangelho o, então, cobrador de impostos é impelido a deixar tudo e seguir a Jesus. Vale destacar que Jesus não impôs nada a ele. Não fez nenhuma observação sobre sua vida ou sobre os critérios que deveriam ser observados. Apenas disse: "Siga-me".

Romanos 1.16 - "Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê"

Ao "deixar tudo", Levi rompe com o seu passado, abandona tudo o que o paralisava naquela vida sem sentido e volta seus olhos para uma nova perspectiva.

Curiosamente, o evangelista anotou que Levi, que deixou tudo, levantou-se. Parece uma observação sem importância. Mas, veja: Jesus o viu sentado e o chamou; Ele, deixando tudo, levantou-se. Sentado é o sinal de instalação, acomodação, enquadramento. Levantar-se é a atitude de quem está se desinstalando, saindo de uma posição cômoda para enfrentar um novo desafio. Levantar-se para pôr-se a caminho.

O seguidor de Jesus, o cristão, há de ser uma pessoa "em saída", disposta a caminhar, a empreender, a crescer, a partir. A igreja não é a casa dos acomodados, é o caminho dos que seguem Jesus.

Bom, ele deixou tudo (deu um novo rumo ao que era e ao que fazia), levantou-se (venceu a acomodação de sua situação) e seguiu Jesus. Seguir é fazer-se aluno, discípulo. E segue Jesus, com os outros discípulos, faz comunidade com eles. Isto é a Igreja, que nasce por obra do Espírito Santo, unindo a Cristo os que se põem a caminho com ele.

3 - A CONSEQUÊNCIA DO EVANGELHO É SEGUIR

O anúncio do Evangelho, a boa notícia da salvação em Cristo tem como implicação uma mudança radical de vida.

"E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará." (Lucas 9:23-24)

No entanto, todo esforço de obediência à lei pode ser, facilmente, confundido com o legalismo que não é Evangelho, apenas cumprimento religioso.

O Evangelho é:

"Eu sou aceito por Deus, através de Cristo, portanto obedeço a Deus.

" Religião é: "Eu obedeço a Deus, portanto, sou aceito por Deus."

Seguir a Cristo, como consequência do Evangelho, é um convite a um relacionamento íntimo e profundo com o próprio Cristo. Jesus não abandona seus discípulos à própria sorte, mas convida para uma jornada pessoal com Ele, ouvindo dEle, aprendendo com Ele, recebendo dEle.

Mateus não era querido pelas pessoas, pelo fato de ser um publicano, mas ao ser encontrado por Jesus, foi curado de sua paralisia do coração.

A reação imediata de um coração curado é querer compartilhar da mesma alegria. Ele prontamente ofereceu um grande banquete para Jesus, seus discípulos, pecadores e publicanos. Todos eram bem-vindos para compartilhar da alegria de Mateus.

Seguir a Cristo muda nossas vidas e nos faz ressignificar todos nossos relacionamentos.

Ao olharmos para os versículos do evangelho de Lucas citados acima, ficamos diante de um dos textos mais profundos e claros para entender como deve ser o caminho de um seguidor de Jesus.

1) Negar a si mesmo – O que significa isso? Qual a amplitude disso? A ideia do texto é que devemos esquecer de nós mesmos, perder a visão e o interesse próprio. Em linhas gerais podemos dizer que a proposta é morrer para si.

2) Tomar a cruz a cada dia – Creio que essa frase vem logo após do negar a si mesmo de forma muito pedagógica, pois se negarmos a nós mesmos e não tomarmos a nossa cruz, testificamos que nos movemos para nós mesmos e não para Cristo. Existem muitos que se negam seguindo os seus próprios corações enganosos, e Julgam o que é "bom" ou "ruim" para si, servindo ao próprio ventre e não a Deus.

3) Siga-me Esse chamamento só é real se estiver precedido de negação de si mesmo e apropriação da cruz. No verso 24 Jesus traz uma perspectiva sobre o caminho do seu seguidor. Ele nos diz que a salvação da vida está em perdê-la. É perdendo que se ganha! É morrendo que se vive! Essa é a grande sacada do evangelho de Jesus. Somos chamados a morrer para que assim venhamos a viver.

Essa é a proposta de vida mais desafiadora de todas. Porém, se Deus nos escolheu para essa vida, somos os mais felizes de todos os homens. Seguir o mestre consequentemente deverá nos levar a impactar o mundo, fazendo parte da missão de Deus.

Não podemos considerar um campo de ação como mais importante que o outro, pois a missão de Deus está sobre toda a terra. Que o Senhor encha o nosso coração de temor, sabedoria e ousadia, para vivermos para sua glória no campo onde ele já nos inseriu, o mundo.

Mateus foi paralisado pelo pecado e por um estilo de vida que buscava o reconhecimento através da influência, poder e dinheiro, mas o que ele encontrou foi o vazio de uma vida na qual não se sentia acolhido, pertencendo ou amado.

O pecado afeta a forma como você se relaciona com Deus, com as outras pessoas e com você mesmo. Ainda, toda nossa tentativa de cativarmos a Deus, as pessoas ou nos convencermos de que somos ou de quem não somos, é frustrada.

A boa notícia do Evangelho é que, em Cristo, Deus nos escolheu, chamou (Siga-me) transformando nossas vidas para que vivêssemos em novidade de vida.

Diante desse chamado, o que você precisa deixar para seguir a Cristo (discipulado) e experimentar seu grande amor?

4- EXISTE UM CUSTO

Quando falamos sobre "custo" nos referimos à capacidade que temos de calcular perdas e ganhos visando uma tomada de decisão. Entendo por "decisão" toda e qualquer situação em que, não importa qual seja a escolha, haverá perdas e ganhos. Nesse caso, calcular o custo é tomar consciência do que vamos perder e ganhar numa determinada decisão.

No fundo, as pessoas calculam custos o tempo todo, pois sempre estão decidindo. Isso é assim mesmo quando não decidem. Afinal, "não decidir" também é uma decisão e, como toda decisão, ela tem perdas e ganhos. O discipulado como ato de seguir a Jesus é uma decisão. Portanto, tem um custo. Qual é o seu custo?

1. O custo do amor

Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs, e até a própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. (Lc 14.26)

A primeira demanda do discipulado é o amor. Não o amor em geral, mas um amor específico. Pessoas podem amar a Deus como se ele fosse de barro ou de metal, ou como mais uma pessoa importante que disputa nossa atenção em relação aos outros.

Quando isso acontece — de alguém amar a Deus como se ele fosse meramente mais uma coisa entre outras ou mais uma pessoa entre outras — Deus não está sendo priorizado. Ele é apenas mais um item na agenda. O verdadeiro discípulo ama a Jesus como Deus, isto é, acima da família e da sua própria vida.

Quando amamos nossa família mais do que a Deus, nossa família não é amada como deveria ser. Na verdade, quando isso acontece, ela é amada no lugar de Deus. Ela se torna um ídolo que controla toda a nossa vida e agenda. Portanto, o discipulado requer que Cristo seja o centro e isso terá um custo principalmente se nossa família, bens ou nós mesmos ocuparem a centralidade do nosso coração.

2. O custo do sofrimento

Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. (Lc 14.27)

Qual era o significado de "carregar sua cruz" para os primeiros discípulos que ainda não tinham visto Jesus carregar a cruz onde ele seria crucificado? Para eles, a cruz era símbolo de rejeição e humilhação.

O sujeito que carregava uma cruz tinha sido banido da sociedade, porque era considerado uma ameaça para todos. Ele deveria ser eliminado, mas não sem antes passar por um doloroso processo de humilhação e sofrimento. "Carregar sua cruz" revela que o discipulado de Jesus implica a convivência em um mundo hostil ao evangelho, em uma cultura que rejeita seus ensinos e, por conseguinte, seus discípulos.

Por isso, para evitar o enfrentamento dessa rejeição natural ao discipulado de Jesus, podemos ressignificar a cruz, minimizar o poder confrontador do evangelho, maquiar a Bíblia e nossas igrejas locais para que um pseudocristianismo seja aceito pela cultura, para que sejamos recebidos nas diversas esferas da sociedade, sem "cara feia", sem sermos tachados de fanáticos, fundamentalistas e, porque não, de loucos. Quando desprezamos a demanda do sofrimento inerente ao discipulado, forjamos uma cruz para nós mesmos.

 

 

3. O custo do desapego

A terceira demanda desfere o último golpe. Trata-se de um golpe fatal em nossa dependência de todas as coisas que criam em nós um vínculo de pertencimento ao mundo. Os vínculos com as coisas que possuímos são potencialmente a razão pela qual muitos são incapazes de seguir a Jesus.

O objetivo do discipulado é nos conduzir para o reino de Cristo, transformando-nos em peregrinos nesse mundo, libertando-nos da crença de que somos o que possuímos e que temos o domínio sobre nossa família, nossas coisas e até sobre nós mesmos.

Por essa razão, o discipulado é um movimento que deve começar com rendição e submissão a Jesus e sua Palavra. Os discípulos de Jesus são como plantas que foram removidas com raízes de sua cultura egocêntrica e que, em seguida, foram transplantadas para a cultura cristocêntrica do reino de Deus.

Jesus tem a supremacia. Ele é o rei a quem devemos nos render e perder nele todos os vínculos que nos fazem acreditar que somos senhores de nós mesmos e de tudo a nossa volta.

A advertência de Jesus é precisa: aquele que for incapaz de amar a Cristo acima de tudo, de sofrer por causa de Jesus e seu ensino e de desvincular-se de tudo o que o prende nesse mundo, jamais poderá ser seu discípulo.



Nenhum comentário: