2021/09/08

Lute por sua Igreja - Igreja uma Famíliar estendida

"Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina. Ensine os homens mais velhos a serem sóbrios, dignos de respeito, sensatos, e sadios na fé, no amor e na perseverança. Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom. Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos," Tito 2:1-4

Sempre pensamos na família como ponto de referência para o  bem−estar, desenvolvimento e amadurecimento de cada ser humano.

A família é um ambiente que contribui significativamente para a formação de cada  pessoa. A presença de entes queridos junto de alguém pode ser a grande base de sustentação para conduzi−lo em boas decisões, para estimulá−lo e fortalecê−lo em momentos de adversidade; para servir−lhe como modelo ou inspiração em algumas realizações ou até mesmo para auxiliá−lo a evitar decisões que possam magoar a própria pessoa e todos que o cercam.

Um estudo realizado no Brasil em 2004, com 5 mil jovens de 11 a 18 anos, evidenciou que famílias em que os membros se sentam juntos para as refeições estabelecem um melhor diálogo e menor risco de cios como fumar, beber, usar drogas e de distúrbios como depressão e pensamentos em suicídio. A mesma pesquisa também constatou que cerca de 40% das famílias brasileiras não se sentavam para uma refeição em família nem ao menos uma vez por semana.

Entendemos a influência positiva que a família pode ter no processo de formação de alguém, mas a realidade do nosso tempo também nos faz crer que a família como conhecemos durante os últimos 150 anos  parece estar visivelmente abalada. Dados do IBGE afirmam que após ter entrado em vigor, em julho de 2010, a nova lei nacional que desobriga a  necessidade de um ano de separação entre os cônjuges para a obtenção do divórcio, este aumentou 45,6% .

Mas se a família nuclear como conhecíamos tem dado lugar ao que tem sido chamado de "família−mosaico", se é cada vez mais comum crianças crescendo longe do pai ou da mãe, se os adultos têm sido abala dos em suas vidas e emoções por conta dos relacionamentos quebrados, se homens e mulheres têm se sentido decepcionados por terem sido abusados emocionalmente e fisicamente por outras pessoas, qual seria a solução para que existisse de fato um ponto de referência, amadurecimento e influência positiva para desenvolvimento de cada ser humano?

A resposta talvez esteja no "modelo antigo de família", como disse certa vez o historiador Justo González, cubano radicado nos Estados Unidos. No passado, as famílias não eram compostas por papai, mamãe e filhinhos, mas eram verdadeiros clãs, com a presença de avôs, avós, tios, tias, primos, primas e por vai.

Nesse contexto, se o indivíduo não tinha uma boa influência por parte do comportamento de seu pai ou sua mãe, poderia buscar referência em outros parentes próximos que estavam sempre auxiliando a moldar o seu caráter.

Pensando nos dias de hoje, a partir da espiritualidade cristã, a igreja é exatamente essa família estendida onde meninos criados longe da figura paterna podem buscar uma referência de como serem bons pais. Onde meninas que cresceram sem um bom exemplo de família podem se espelhar em mulheres ma- duras para se tornarem boas esposas. Aqueles que cresceram em meio a mentiras e traições podem conhecer uma nova forma de viver um relacionamento afetivo.

Para que possamos vencer essa guerra e proteger as nossas famílias. Precisamos  compreender a definição de uma expressão que tem sido usada no contexto missional: "Família estendida".

O que queremos dizer com isto? Segundo o Pr. Mike Breen:

"Basicamente, o termo família estendida é utilizado, quando uma pessoa se relaciona com outras pessoas além de sua própria família que fazem parte de seu convívio cotidiano, como parentes, amigos e pessoas com quem há interatividade regular."

Assim, a ideia de família estendida passa pelo conceito de reconhecermos um grupo maior, que transcende a família nuclear, podendo ser composta por outros familiares consangüíneos ou mesmo amigos. Por que para a igreja é importante entrar em combate por este conceito de família? Pelo menos por três razões:

Primeiro, porque a conhecida família nuclear tem sofrido com o individualismo de nossa sociedade contemporânea, quando gera a ideia de que se nos tornamos uma família, então, temos que responder individualmente por ela.

Segundo, porque um número cada vez maior de crianças, adolescentes e jovens, frutos da desagregação familiar contemporânea, carecem de referências para suas vidas de relacionamentos saudáveis e de modelos adequados de paternidade, vida conjugal e relacionamento entre os membros de uma família.

Terceiro, porque conforme a Bíblia a própria essência da igreja é a de uma família estendida que expressa o grande e generoso amor de Deus que é derramado sobre nós.

Quando lemos os Evangelhos vemos que o próprio Senhor Jesus apontou para esta dimensão na explicação de sua igreja, expressa primariamente pela comunidade de seus discípulos reunidos ao redor dele.

"Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo. Havia muita gente assentada ao seu redor; e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram. Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? , perguntou ele. Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe." Marcos 3.31-35

"Respondeu Jesus: Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna." Marcos 10.29-30

Então, como podemos combater em prol do conceito e desenvolvimento da família estendida como uma alternativa de Deus para o acolhimento e modelamento de pessoas que se rendem ao evangelho em nossa cultura contemporânea?

Para responder a esta questão quero que observemos o texto bíblico conhecido como "Tito", em seu capítulo 2.

Este livro é uma carta escrita pelo apóstolo Paulo a um de seus jovens discípulos, que ficou com a responsabilidade de liderar o avanço do evangelho e a estruturação da igreja na Ilha de Creta.

ENTENDER QUE TODOS NÓS SOMOS RESPONSÁVEIS NA FORMAÇÃO DOS VALORES FAMILIARES.

"Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina." (Tito 2.1)

"É isso que você deve ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze." (Tito 2.15)

Entre a abertura e o encerramento deste texto temos para quem Tito deveria ensinar o que é chamado de "sã doutrina". E a mesma deveria ser ensinada para:

Os homens mais velhos; As mulheres mais velhas; As mulheres mais jovens;.Os jovens. Os escravos. Ou seja, todas as faixas etárias são contempladas, bem como as posições sociais.

No contexto de Tito, os escravos faziam parte de uma família. Na cultura grega eles eram de propriedade dos patronus.

No texto de Efésios 6.9 vamos ter uma orientação da palavra de Deus direcionada aos patronus cristãos em relação a seus escravos, que é omitida aqui em Tito, mas que serve de referência para entendermos que todos estão sendo contemplados pela orientação das Escrituras sobre suas responsabilidades para a formação e manutenção dos valores do Reino de Deus na vida familiar.

"Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas." (Efésios 6.9)

Na nossa cultura fugimos da responsabilidade que temos como parte de nossa família. E há muitas famílias que não tem nenhuma referência que possa ser seguida pelos seus componentes, porque estamos mais preocupados com nossos direitos individuais do que com nossa responsabilidade familiar.

Assim, a igreja deve ser uma grande família. Temos todos o mesmo sangue! O sangue do Cordeiro Santo de Deus, Jesus Cristo, que morreu por nós e ressuscitou, para que pudéssemos ter uma nova vida. Uma vida com um novo poder, novo relacionamento e novo propósito.

Cada um de nós precisa se ver como responsável por outros que chegam no nosso meio precisando de modelos de pais, mães, casamentos, filhos, para que saibam como viver as suas vidas dentro dos valores do Reino de Deus.

ENTENDER QUE NOSSO MODELO DE VIDA DEVE SER REFERÊNCIA PARA A VIDA FAMILIAR

"Ensine os homens mais velhos a.... Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a... Assim poderão orientar as mulheres mais jovens a.... Da mesma forma encoraje os jovens a.... Ensine os escravos a...."

Ao orientar Tito sobre o que ele deveria ensinar na igreja em Creta, o apóstolo Paulo, enfatiza a vida cotidiana e comum que temos para viver como cidadãos do Reino de Deus, inseridos como peregrinos em uma cultura oposta ao governo amoroso de Deus.

A descrição que encontramos em Tito 1.9-16 demonstra claramente como a cultura em que a igreja de Creta estava inserida era contrária ao Reino de Deus e como a igreja deveria responder a ela.

 De modo semelhante em nossos dias vivemos cercados por valores que são opostos a boa e perfeita vontade de Deus para a humanidade e como igreja devemos nos opor a eles através de um estilo de vida que propicie uma alternativa para a sociedade que nos cerca.

Assim, a sã doutrina que a Bíblia nos ensina não é nada etérea, mas concretamente prática para nosso viver diário e para a vida das pessoas que nos cercam.

Os homens mais velhos devem ser modelos de moderação, respeito, sensatez, e de uma vida saudável de fé, amor e esperança (Tito 2.2).

As mulheres mais velhas devem ser modelos de vidas reverentes, bondade, temperança e benignidade. Orientando as jovens mulheres (Tito 2.3-4).

As mulheres mais novas precisam praticar o amor ao esposo e cuidado para com os filhos, a serem prudentes e puras, a não serem ociosas, a serem bondosas, e submissas a seus maridos (Tito 2.4-5).

Os jovens precisam ser prudentes (2.6). Os escravos precisam ser submissos, agradáveis aos seus senhores, sem responderem e roubá-los (2.9-10).

Estes são exemplos do primeiro século de uma cultura específica, mas que expressam o princípio do que a "sã doutrina" do evangelho deve produzir em nossa vida.

Hoje as pessoas precisam, tanto ou mais do que nos dias de Tito, de referências do que vem a ser uma vida familiar sadia. Pessoas precisam de referenciais e de encontrarem um caminho alternativo para inspira-las na vida familiar.

Adolescentes e jovens precisam encontrar referência de casais com casamentos sadios para se sentirem seguros ao entrarem em um casamento. Crianças precisam encontrar o modelo de masculinidade e feminilidade saudáveis para que possam se desenvolver como homens e mulheres integrais. Jovens casais precisam ver em casais mais maduros a sabedoria de um casamento que fez a escolha pela aliança conjugal no lugar da transitoriedade da paixão.

ENTENDER QUE A GRAÇA QUE NOS É OFERECIDA PELO EVANGELHO É O QUE SUSTENTA A FAMÍLIA ESTENDIDA.

"Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança; a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras." (Tito 2.11-14)

A conclusão deste texto é de fundamental importância para a compreensão da igreja como a família estendida de Deus para nós. O texto nos lembra que se vivemos o que vivemos como igreja é devido a graça de Deus e não a nossos esforços pessoais, ou porque a igreja tem em si algum elemento mágico.

Muitas pessoas se decepcionam com a igreja porque esquecem-se de que ela é composta por seres humanos como todos os demais, e que a única diferença entre nós é o poder do evangelho que nos conduz a aprender e viver um estilo de vida diferente do contexto que nos cerca.

A igreja, assim como qualquer outra família, tem suas crises, suas limitações, seus desencontros, mas a graça de Deus se manifesta salvadora através do evangelho, nos conduzindo à busca contínua de um novo padrão de vida que irá nos referendar.

A igreja é o contexto onde as pessoas devem encontrar uma família estendida que foi remida de toda a maldade e purificada para ser o povo de Jesus Cristo que está neste mundo, mas que vive na prática das boas obras (a vontade boa e perfeita de Deus para a humanidade).

É no contexto desta família estendida que a sociedade pode encontrar esperança no evangelho, no que Deus fez por nós através da morte e ressurreição de Jesus Cristo, pois aprendemos com ele a viver nesta era presente de maneira sensata, justa e piedosa, enquanto esperamos a chegada plena do Reino de Deus.

Esse é o desafio e o privilégio que o Evangelho nos impõe como uma igreja missional! Sermos referência para as famílias ao nosso redor do que é um casamento baseado na aliança conjugal, do que são pais comprometidos com a formação de seus filhos e filhos engajados em dar honra a seus pais.

Se nossa sociedade contemporânea não sabe o que é isto, então, que ela olhe para a igreja e veja o modelo disto em nós. E para tanto, precisamos da graça de Deus.

Nas cartas escritas pelo Apóstolo Paulo encontramos constantemente algumas orientações sobre como os cristão devem agir em relação a seus irmãos na fé. Ao lado dessas instruções sempre encontramos a expressão "uns aos outros", por isso os cha mamos de "Imperativos de Mutualidade".

Em Romanos 12.10a ele diz o seguinte: "Dediquem−se uns aos outros com amor fra- ternal". Como você acha que podemos tornar isso possível? Como você poderia se dedicar aos seus irmãos na fé com amor fraternal a partir de quem você é?

A comunidade cristã é um espaço de cuidado mútuo para que a cada dia possamos crescer em graça diante de Deus e cami- nharmos na direção de sua boa, agradável e perfeita vontade.

A decisão

Com certeza, você traz na sua própria história impressões sobre o conceito de família, que, baseado em suas experiências pessoais, podem ser positivas ou extremamente negativas. Porém, o nosso Pai Celeste em sua misericórdia e graça nos amou de tal maneira que preparou a comunidade cristã como um espaço para o nosso cuidado a partir de pessoas que colocou em nossas histórias.

Em Mateus 7.9-12, Jesus diz: "Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem! Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas.

Nós seres humanos em nossa natureza tendemos ao mal, e mes mo tentando fazer o melhor possível para aqueles que amamos, muitas vezes decepcionamos e somos decepcionados. Porém, como Pai Celeste e nosso criador, Ele que nos ama e se importa conosco de maneira integral (fisicamente, emocionalmente e espiritualmente), cuida de nós e cria um ambiente onde possamos perceber o Seu cuidado revelado em outros discípulos e discípulas de Jesus que, como nós, também são falhos, mas que amparados pelo Espírito de Deus a cada dia caminham na direção da maturidade e se tornam nossos companheiros para juntos superarmos os momentos mais difíceis de nossas jornadas.

Olhe para a comunidade cristã que Deus preparou como um espaço de crescimento, amadurecimento onde você pode aprender e ensinar outros que como você são inseridos na família da- queles que foram redimidos em Jesus.

A Ação

1.          Você se sente parte dessa família?

2.          Como você pode efetivamente contribuir para que outros se sin- tam de fato acolhidos com amor fraternal no contexto de sua comunidade local?

3.          Tente visualizar como você pode amadurecer diante de Deus e quem dentro da família estendida pode te ajudar nesse proces- so. Procure essa(s) pessoa(s) e peça ajuda.

4.          Faça o caminho inverso e identifique pessoas com quem você pode contribuir a partir de suas experiências de vida e de seu re- lacionamento com a pessoa de Jesus. Procure essa(s) pessoa(s) e ofereça ajuda.

 "Dediquem−se uns aos outros com amor fraternal." Romanos 12.10a

 

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