2010/10/26

Tema: A Ceia do Senhor

Texto: 1 Coríntios 11.23-26

 O que é a Ceia do Senhor? Como e quando deve ser celebrada? Quem pode participar dela? Quero esclarecer um pouco desta ordenança de Jesus praticada em nossas igrejas…

A celebração da Ceia foi uma das ordenanças deixadas pelo Senhor (Mt. 26.26-30; I Co. 11.23-25). Os discípulos poderiam se envolver com outras atividades e esquecerem o principal, o valor da morte e ressurreição de Cristo. Por isso, para eles, bem como para nós hoje, a Ceia tem um significado rememorativo.

Os elementos da Ceia – o pão e o cálice – são símbolos do sacrifício do Cordeiro de Deus para a nossa salvação. O pão representa o Seu corpo (I Pe. 2.22-24) e o cálice simboliza o sangue do Senhor (Mc. 14.24). A Ceia deve ter observação contínua (Lc. 22.14-20) como o fizeram os primeiros discípulos (At. 2.42; 20.7; I Co. 11.26).  

Com base em I Co. 11.21, depreendemos que, em Corinto, a Santa Ceia não era uma refeição simbólica apenas, como acontece em nosso meio nos dias atuais, mas uma refeição de verdade. Fica claro também pelo texto que cada um dos participantes levava uma porção de comida que era compartilhada uns com os outros.

 

UMA INSTITUIÇÃO DE CRISTO

"…o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes em que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha." (1 Coríntios 11.23-6)

Observando a expressão "fazei isto", percebemos que se trata de uma ordem de Jesus. É um imperativo, e fica ainda mais evidente ser uma ordenança para a Igreja, quando Jesus repete a expressão "todas as vezes que"… mostrando que este ato deveria ser parte da nossa prática cristã.

Mas é preciso que haja atenção em relação ao significado dessa celebração, o descaso e a irrelevância dada à Ceia é pecado com graves conseqüências (I Co. 11.30).

Recomendamos, por ocasião da Ceia do Senhor:

1) sinceridade na apreciação (Lc. 22.17-19);

2) auto-exame em reconhecimento dos pecados (I Co11.27-29);

3) comunhão com os irmãos (I Co 10.16-17); e

4) esperança quanto à manifestação do Senhor, no dia que Ele vier (I Co. 11.25,26).

   

UM MEMORIAL

Lugar algum das Escrituras menciona o pão e o vinho se tornando literalmente o corpo e o sangue do Senhor na hora em que o partilhamos. Pelo contrário, Jesus deixa claro o caráter simbólico do ato ao dizer: "fazei isto em memória de mim".

A ceia do Senhor é um momento de recordação do que ele fez por nós ao morrer na cruz para a remissão dos nossos pecados. Quando a celebramos, estamos anunciando a morte do Senhor Jesus até que Ele volte! Os elementos são, portanto, figurativos, e não literais.

 

UM RITUAL DE ALIANÇA

Os orientais davam muito valor à alianças, e as respeitavam. Quando Jesus institui exatamente o pão e o vinho como os elementos da ceia, ele sabia exatamente o quê estava fazendo. Para os judeus, o pão e vinho faziam parte de um ritual de aliança de sangue, o mais alto nível de aliança a que alguém poderia se submeter.

Ao contrair uma aliança deste nível, as duas partes estavam declarando que misturavam suas vidas e tudo o que era de um passava a ser de outro e vice-versa; por isso Jesus declarou na ceia que o cálice era a aliança NO SEU SANGUE, estabelecendo com isso, na ceia, um ritual de aliança.

No Velho Testamento vemos Abraão indo ao encontro de Melquisedeque, sacerdote do Deus altíssimo, e levando pão e vinho. O que era isto? Um ritual de aliança. Quando ceamos, estamos reconhecendo que realmente estamos aliançados com Cristo, e que nossas vidas estão misturadas, fundidas uma na outra "Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito."                    (1 Co.6.17).

Jesus deixou bem claro aos que o seguiam que não bastava apenas simpatizar-se com ele ou segui-lo pelos milagres que operava, mas que era necessário aliança, e aliança no mais elevado e sagrado nível que os judeus conheciam: a aliança de sangue.

Muitos não compreendem isto por não conhecer os costumes da época, mas era a este tipo de aliança que Jesus se referia ao proferir estas palavras:

"Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, permanece em mim e eu nele." (João 6.53-56)

É óbvio que Jesus não falava sobre comer a carne literalmente, mas sim sobre aliança, sobre mistura de vida; isto fica claro quando o Mestre conclui dizendo que tal pessoa permaneceria nele e ele nesta pessoa. Este texto também não fala diretamente da ceia, mas sim da nossa aliança com Cristo; embora deixe claro qual é figura da ceia: um ritual de aliança onde testemunhamos comunhão entre nós e o Senhor Jesus Cristo.

 

UM TEMPO DE COMUNHÃO

No início do Cristianismo realizava-se uma refeição ritual conhecida como a "festa ágape" Estas festas do amor tinham aparentemente uma refeição completa, com cada participante trazendo os seus próprios alimentos, e com a refeição sendo comida em uma sala comum. Eles só não festejavam no domingo porque que ficou conhecido como o Dia do Senhor, para recordar a ressurreição, a aparição de Cristo aos discípulos na estrada de Emaús.

Judas e o apóstolo Paulo se referem a isto como "a festa do amor", por meio de advertência, o que reflete parte de seu propósito. As ênfases na expressão "corpo" que encontramos no ensino bíblico da ceia, reflete esta visão de unidade e comunhão. A mesa é um lugar de comunhão em praticamente quase todas as culturas e épocas, e a mesa do Senhor não deixa de ter também esta característica.

 

UM ATO DE CONSEQUÊNCIAS ESPIRITUAIS

Na epístola de Paulo aos coríntios, fica claro que a Ceia do Senhor tem conseqüências espirituais; ela será sempre um momento de benção ou de maldição para os que dela participam.

 

BENÇÃO

"Porventura o cálice da benção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?" (1 Coríntios 10.16)

Observe o termo "cálice da benção". Isto não é figurado, é real. A Ceia do Senhor traz bênçãos espirituais sobre aqueles que dela participam.

Um outro termo empregado neste versículo, que nos revela algo importante, é "comunhão"; quando ceamos, estamos pela fé acionando um poderoso princípio, temos comunhão com o sangue e com o corpo de Cristo! O que isto significa? Quando derramou seu sangue, Jesus o fez para a remissão de nossos pecados, logo, ao comungarmos o sangue, estamos provando que tipo de bênçãos? A purificação, e também a proteção, pois o diabo não pode transpor o poder do sangue para nos tocar.

"Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o SENHOR." (Ex 12.23)

E o que significa ter comunhão com o corpo? O corpo de Jesus foi moído porque ele tomou sobre si nossas enfermidades, e as nossas dores carregou sobre si, e pelas suas feridas fomos sarados

"Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados." (Is 53.4-5).

 A obra redentora de Cristo nos proporciona cura física, e na Ceia do Senhor é um momento onde podemos provar a benção da saúde a da cura. Muitos estavam fracos e doentes na igreja de Corinto por não discernirem o corpo do Senhor na Ceia.

Ao falar sobre comungarem com o corpo do Senhor, Paulo se referia não apenas ao corpo do Cristo crucificado por meio do qual somos sarados, mas também ao corpo ressurreto, no qual habita toda a plenitude da divindade e é fonte de vida aos que com ele comungam.

A Ceia do Senhor deve ser um momento especial de comunhão, reflexão, devoção, fé, e adoração. Tudo deve ser feito de coração e com reverência, pois é um ato de conseqüências espirituais.

 

MALDIÇÃO

A Bíblia não usa especificamente esta palavra, mas mostra que a maldição pode vir como um juízo de Deus para quem desonra a Ceia do Senhor. Depois de ter dito que ao participar da mesa do Senhor a pessoa está anunciando a morte de Jesus até que ele venha, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, traz a seguinte advertência:

"Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice, pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo." (1 Coríntios 11.27-32)

Para muitas pessoas, a Ceia é algo que as amedronta; preferem não participar dela quando não se sentem dignas, para não serem julgadas. Mas veja que a Bíblia não nos manda deixar de tomar, e sim fazer um auto-exame antes, pois se houver necessidade de acerto devemos fazê-lo o mais depressa possível.

"Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." (1 Jo 1.9).

Deixar de participar da mesa do Senhor é desonrá-la também! Devemos ansiar pelo momento em que dela partilharemos, e não evitá-la. Mas há aqueles que querem fingir que estão bem, e participam sem escrúpulo algum do que é sagrado; para estes, não tardará o juízo.

Participar da mesa do Senhor tem conseqüências espirituais; ou o cristão é abençoado ou é amaldiçoado. Não há meio termo; a refeição não é apenas um simbolismo; não se participa da Ceia do Senhor como se participa de uma cerimônia qualquer, pois é um momento santificado por Deus e de implicações no reino espiritual.

 

QUEM PARTICIPA

A Ceia, como ritual de aliança que é, destina-se, portanto, aos que já se encontram em aliança com Cristo; ou seja, aos que já nasceram de novo e estão em plena comunhão com Deus. Há igrejas que só servem a Ceia para quem pertence ao seu rol de membros; consideramos isto um grande erro, pois a Ceia do Senhor é para quem o serve de todo coração, independentemente de tal pessoa congregar em nossa igreja local ou não; se a pessoa faz parte do Corpo de Cristo na terra, então deve participar da mesa.

Há ainda, aqueles que afirmam só poder participar da Ceia do Senhor quem já se batizou nas águas, mas não há sustentação bíblica para isto; desde o momento em que a pessoa se comprometeu com Cristo em sua decisão ela já está dentro da aliança firmada por Jesus na cruz. Entendemos que o novo convertido deva ser encaminhado para o batismo tão logo seja possível.

Os critérios básicos são: estar aliançado com Cristo, e com vida espiritual em ordem. Contudo, não proibimos ninguém de participar, apenas ensinamos o que a Bíblia diz, para que cada pessoa julgue-se a si mesma. Nem Judas Iscariotes, em pecado e endemoninhado foi proibido por Jesus de participar da Ceia.

"Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze... Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa. (Lc 22.3;21).

A instrução bíblica é que a pessoa se examine a si mesma, e não que seja examinada pelos outros. Portanto não examinamos ninguém, nem as proibimos, só instruímos. Se a pessoa insistir em participar de forma indigna colherá o juízo divino.

 

ONDE ACONTECE

Não há um lugar determinado para se realizar a Ceia, onde quer que estejam reunidos os cristãos ela poderá ser feita.

No livro de Atos, lemos que o pão era partido de casa em casa (Atos 2.46), "Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração," o que nos deixa totalmente à vontade em relação a celebrá-la nas células; mas Paulo ao usar as seguintes palavras: "…quando vos reunis na igreja…" e "Se alguém tem fome coma em casa…" (1 Coríntios 11.18 e 34); revela que na cidade de Corinto a Ceia era praticada também num local maior de reunião para toda a igreja.

Portanto, como nos reunimos no templo e nas casas, à semelhança dos dias do Novo Testamento, também praticamos a Ceia do Senhor nos dois locais de reunião, sendo que a maior incidência se dá no templo quando reunimos todo o corpo local.

 

QUANDO ACONTECE

Entendemos que não há uma periodicidade definida pela Bíblia quanto à celebração da Ceia; Jesus apenas disse:

"…fazei isto, TODAS AS VEZES QUE o beberdes, em memória de mim" (1 Co 11.25b).

Esta expressão "todas as vezes que" nos dá liberdade de fazermos quando quisermos, mas sempre em memória do Senhor Jesus Cristo.

Em nossa igreja, celebramos a Ceia do Senhor mensalmente no templo, e não temos periodicidade definida nas casas.

 Conclusão

Como presbiterianos, nós somos herdeiros da linha teológica do reformador João Calvino, ele defendia a presença espiritual de Cristo na Santa Ceia. Ele sempre dizia ("sursum corda", "elevemos os corações"), ele dizia que não era Cristo quem descia para tomar forma de pão e de vinho, mas era a Igreja quem era elevada espiritualmente aos céus para participar da Ceia na presença de seu Senhor (Calvino, Breve tratado sobre a Ceia do Senhor, § 51).

Segundo a nossa teologia, não acontece qualquer transformação interna no pão e do vinho, nem é repetido o sacrifício de Cristo na cruz. Mas sim, pela operação do Espírito Santo, todos quantos, com fé, comem e bebem e são alimentados fisicamente do pão e do vinho, também comem e bebem e são alimentados espiritualmente do Corpo e do Sangue de Cristo. O sacrifício do Senhor Jesus na cruz não é repetido, mas os benefícios da sua morte em nosso lugar são atualizados, trazidos para nós no presente pela ação do Espírito Santo.

(Calvino, As Institutas, IV.17.10; Confissão de Fé de Westminster, 39.7)

Quando comemos do pão e bebemos do cálice, diz o Apóstolo Paulo, anunciamos a morte do Senhor até que ele venha (I Co. 11.26). Quando participamos da Comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor, nos é dada uma prévia, uma amostra e uma garantia do grande banquete que nos aguarda, quando Cristo finalmente vier buscar sua Noiva, que é a Igreja "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro." (Ap. 19.9).

Portanto, a celebração da Santa Ceia, é um testemunho visível, palpável e do mistério da nossa fé, do motivo da nossa viva esperança, de que Cristo morreu e ressuscitou, e voltará na glória do seu reino eterno.

Deus nos conceda que, como testemunhas fiéis, que testemunham da verdade, possamos comunicar ao mundo a Verdade do Evangelho, para que, vendo o mundo nossa perseverança "na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações", "com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo" (At. 2.42, 46, 47), acrescente-nos o Senhor, dia a dia, os que serão salvos.

                                         Extraido e Adaptado

 


 

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