2025/11/29

“Por que Deus permite que coisas ruins aconteçam?”

Se Deus é onipotente (pode tudo), onisciente (sabe tudo) e benevolente (é bom), por que o mal existe?

Esse é o chamado problema do mal, que desafia tanto a lógica quanto a fé. A dor, a injustiça e o sofrimento parecem contradizer a ideia de um Deus amoroso e soberano.

A existência do mal é uma das questões mais antigas da humanidade, e para respondê-la com profundidade, precisamos olhar por três lentes: teológica, filosófica e espiritual. Vamos destrinchar isso com clareza e reverência.

Gottfried Leibniz: O melhor dos mundos possíveis

Leibniz, filósofo e matemático do século XVII, acreditava que: "Deus, sendo perfeito, escolheu criar o mundo que, entre todas as possibilidades, traria o maior bem possível com a menor quantidade de mal."

Leibniz propôs que, entre todas as possibilidades, Deus escolheu criar este mundo — mesmo com sofrimento — porque ele permite a manifestação do bem maior.

  • Para ele, o mal é instrumental: é permitido para que virtudes como coragem, compaixão e perdão possam existir.

  • Sem dor, não haveria superação. Sem injustiça, não haveria justiça restauradora.

Leibniz reconhece que o mal existe, mas argumenta que:

  • O mal pode ser necessário para que certos bens maiores existam (como coragem, perdão, compaixão).

  • Deus permite o mal não por descuido, mas porque ele é instrumental para um plano maior

  • O mundo sem nenhum mal poderia ser menos rico, menos livre ou menos capaz de gerar virtudes.

📖 Romanos 8:28 — "Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus…"

A tese de Leibniz nos desafia a ver o mundo com olhos de fé e razão. Mesmo com dor, injustiça e sofrimento, este mundo pode ser o palco onde o bem maior se revela — especialmente quando olhamos para a cruz.

Viktor Frankl: O sofrimento com propósito transforma

Viktor Frankl foi um psiquiatra austríaco e sobrevivente de quatro campos de concentração nazistas, incluindo Auschwitz. Em meio à fome, à perda da família e à brutalidade, ele desenvolveu a logoterapia, uma abordagem psicológica centrada na busca de sentido. O sofrimento com propósito transformação.

"Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como." — Viktor Frankl

A visão de Viktor Frankl sobre o sofrimento é uma das mais profundas e transformadoras do século XX — e tem tudo a ver com fé, resiliência e propósito. Vamos explorar essa ideia com profundidade, conectando-a à espiritualidade cristã e à obra redentora de Cristo.

A essência da logoterapia: Frankl acreditava que o principal impulso humano não é o prazer (como dizia Freud) nem o poder (como dizia Adler), mas o sentido. Ele observou que:

  • Pessoas que encontravam propósito — mesmo em meio à dor — tinham mais chances de sobreviver emocionalmente.

  • O sofrimento, quando acolhido com significado, pode se tornar fonte de transformação e não de destruição.

  • O ser humano sempre tem liberdade interior: mesmo quando tudo é tirado, ainda pode escolher sua atitude diante da dor.

Conexão com a fé cristã: A visão de Frankl dialoga profundamente com a espiritualidade cristã:

  • Romanos 5:3-4 — "A tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança."

  • Isaías 53:5 — "Pelas suas feridas fomos curados."

  • Jesus não apenas sofreu — Ele deu sentido ao sofrimento.

  • A cruz é o maior exemplo de dor com propósito: o sofrimento do inocente gerou salvação para os culpados

  • Cristo transforma a dor em redenção, o luto em missão, a ferida em testemunho.

Viktor Frankl nos ensina que o sofrimento pode ser um portal para o crescimento. A fé cristã nos mostra que esse portal tem nome: Jesus Cristo. Ele não apenas caminha conosco na dor — Ele a transforma. E quando encontramos propósito na cruz, descobrimos que até o vale mais escuro pode se tornar caminho de luz.

A visão de Agostinho de Hipona sobre o mal como ausência do bem é uma das mais influentes na tradição cristã e filosófica. Ela oferece uma resposta profunda ao problema do mal, sem negar a bondade de Deus nem a realidade do sofrimento. Vamos explorar essa ideia com clareza, profundidade e conexão espiritual.

Agostinho de Hipona: O mal como ausência do bem

Agostinho, influenciado pela filosofia platônica e pela revelação cristã, concluiu que:
O mal não é uma substância, nem uma criação de Deus. O mal é a privação, a ausência, a corrupção do bem.

Em outras palavras, o mal não tem existência própria — ele é como a escuridão, que só existe onde a luz está ausente. Tudo o que Deus criou é bom. O mal surge quando há desvio, distorção ou ausência desse bem.

Tiago 1:17 — "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes…"

Três níveis da concepção agostiniana do mal

1. Mal metafísico — O mal como não-ser

  • Tudo que existe foi criado por Deus e, portanto, é bom em sua essência.

  • O mal não é uma "coisa" criada, mas uma diminuição do ser, uma falha na plenitude do bem.

  • Exemplo: a cegueira não é uma substância, mas a ausência da visão.

Gênesis 1:31 — "E viu Deus tudo quanto havia feito, e eis que era muito bom."

2. Mal moral — O resultado do livre-arbítrio mal usado

  • Deus deu ao ser humano liberdade para escolher — e com isso, a possibilidade de errar.

  • O mal moral surge quando o homem voluntariamente se afasta do bem, ou seja, de Deus.

  • Agostinho afirma: "O mal é a vontade corrompida, que se afasta do bem supremo."

Deuteronômio 30:19 — "Escolhe, pois, a vida, para que vivas…"

3. Mal físico — Sofrimento, dor e morte

  • Embora não desejado por Deus, o mal físico é consequência do pecado original.

  • Ele pode ser usado por Deus como instrumento de correção, purificação e revelação.

  • Agostinho via o sofrimento como parte de um plano maior, onde até o mal pode ser redimido.

Romanos 8:18 — "As aflições do tempo presente não se comparam com a glória que em nós há de ser revelada."

Cristo: A resposta encarnada ao mal Agostinho não apenas refletiu sobre o mal — ele apontou para Cristo como a solução.

João 1:5 — "A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram."

  • Jesus é o bem supremo encarnado. Nele, o mal é vencido não pela força, mas pela luz

  • A cruz é o lugar onde o mal (ódio, injustiça, dor) foi absorvido e transformado em redenção.

  • Cristo não apenas restaura o bem — Ele é o bem que preenche o vazio do mal.

Isaías 53:5 — "Pelas suas feridas fomos curados."

Conclusão: O mal não tem a última palavra. Agostinho nos ensina que o mal não é uma força rival de Deus — é um vazio que só Deus pode preencher. E Cristo é a plenitude que invade esse vazio. A resposta ao mal não está apenas na lógica — está na cruz.

Como o cristão deve se relacionar com o mal?

A teologia cristã oferece uma abordagem rica e multifacetada sobre como o cristão deve se relacionar com o mal. Vamos explorar isso em camadas:

  1. 1. Reconhecer o mal como realidade presente, mas não definitiva

  • O mal entrou no mundo por meio do pecado original (cf. Romanos 5:12), e desde então, faz parte da experiência humana.

  • A Bíblia não nega o mal — ela o encara de frente. Jó, os Salmos, os profetas e até Jesus choraram diante da dor e da injustiça.

  • O cristão não é chamado a ignorar o mal, mas a enfrentá-lo com esperança.

"No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo." — João 16:33

    1. 2. Ver o mal à luz da cruz

  • A cruz é o maior paradoxo: o mal (a crucificação do inocente) se tornou o meio da salvação.

  • Jesus não apenas sofreu — Ele venceu o mal com amor sacrificial.

  • O cristão é chamado a carregar sua cruz, não como punição, mas como caminho de redenção.

"Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo." — Colossenses 1:24

    1. 3. Resistir ao mal com fé e ação

  • O mal não deve ser aceito passivamente. Paulo exorta: "Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem" (Romanos 12:21).

  • Isso inclui:

    • Orar contra as forças espirituais do mal (cf. Efésios 6:12)

    • Agir com justiça e misericórdia no mundo

    • Ser luz em meio às trevas

  1. 4. Buscar sentido mesmo diante do sofrimento

  • Como Frankl ensinou, e como a teologia cristã confirma, o sofrimento pode ser transformado em missão.

  • A dor não é desejada por Deus, mas pode ser usada por Ele para moldar o caráter, despertar vocações e gerar compaixão.

"A tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança." — Romanos 5:3-4

    1. 5. Esperar pela restauração final

  • A esperança cristã não está apenas em suportar o mal, mas em crer que ele será vencido definitivamente.

  • O Apocalipse promete um novo céu e nova terra, onde "não haverá mais morte, nem pranto, nem dor" (Apocalipse 21:4).

  • O cristão vive entre o "já" da vitória de Cristo e o "ainda não" da consumação final.

    1. Em resumo:

O cristão deve se relacionar com o mal com:

  • Realismo: reconhecendo sua presença

  • Esperança: confiando na vitória de Cristo

  • Resiliência: transformando dor em missão

  • Ação: combatendo o mal com o bem

  • Fé escatológica: aguardando a restauração final



“A Fé que Aponta para Cristo — Com Empatia como Mandamento

Essa menina aparece discretamente em 2 Reis 5:2-3, mas sua atitude ecoa por toda a narrativa bíblica. Ela foi capturada durante uma incursão militar da Síria contra Israel e passou a servir como criada da esposa de Naamã, um poderoso comandante do exército sírio. Não sabemos seu nome, idade ou família — apenas que era jovem, escrava e estrangeira.

Apesar de tudo isso, ela não se deixou consumir pela mágoa ou pelo trauma. Quando viu seu senhor sofrendo com lepra, ela não se calou. Com empatia e fé, disse à sua senhora:

Essa frase simples, dita por uma menina sem poder, foi o gatilho para a cura de Naamã — e para o reconhecimento do Deus de Israel por um general estrangeiro.

Lições poderosas dessa história

Ela foi arrancada de sua terra, mas não de sua fé.

Mesmo longe de casa, manteve viva a confiança no Deus de Israel.

Ela foi ferida, mas escolheu curar.

Sua empatia superou o ressentimento. Ela desejou o bem de quem a escravizava.

Ela não tinha púlpito, mas tinha propósito.

Sua voz foi pequena, mas sua fé foi gigante. Deus usou sua compaixão como ponte para um milagre.

Aplicação para os jovens

Essa história nos ensina que a empatia é um mandamento divino, não apenas uma virtude. Jesus nos ordenou: "Amem uns aos outros como eu os amei" (João 13:34). E amar como Ele amou é sentir a dor do outro, mesmo quando esse outro nos feriu.

A jovem escrava é um exemplo de fé que aponta para Cristo — não com discursos, mas com compaixão. Ela nos mostra que:

Você não precisa estar em destaque para ser usado por Deus.

Sua dor pode ser transformada em missão.

Sua empatia pode ser a chave para a cura de alguém

Pergunta provocativa:
"Você já se sentiu pequeno demais para fazer diferença?"

  • História base:
    A jovem escrava de 2 Reis 5 — sem nome, sem liberdade, sem status — mas com uma fé empática que mudou o destino de um general sírio.

  • Conexão com os jovens:
    "Vivemos em uma geração que busca visibilidade, likes, seguidores. Mas Deus está procurando corações que apontem para Cristo com empatia — mesmo no anonimato."

Desenvolvimento

I. Deus é Soberano nas Circunstâncias

Texto: 2 Reis 5:1-2

  • A jovem foi levada cativa, mas Deus a colocou exatamente onde sua fé faria diferença.

  • Deus transforma dor em propósito.

  • Exemplos: José no Egito, Daniel na Babilônia — todos usados por Deus em meio à adversidade.

Aplicação:
Mesmo quando tudo parece fora de controle — estudos, família, saúde — Deus está escrevendo uma história maior.

Frase de impacto:
"Você pode estar preso, mas sua fé é livre para agir."


II. A Fé Gera Empatia — E a Empatia é Mandamento

Texto: 2 Reis 5:3 + João 13:34

  • A jovem não guardou rancor, mas desejou a cura do seu opressor.

  • Isso é empatia: sentir a dor do outro e agir com compaixão.

  • Jesus disse: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros."
    Amar é sentir, é se importar — é ser empático.

Aplicação:
Quem são as pessoas difíceis ao seu redor que precisam de uma palavra de esperança?
Empatia não é opção — é obediência ao mandamento de Cristo.

Frase de impacto:
"Empatia não é fraqueza — é obediência ao coração de Deus."


III. O Testemunho Não Depende de Posição

Texto: 2 Reis 5:3

  • Ela não tinha púlpito, mas tinha uma mensagem.

  • Evangelização é apontar para Cristo com atitudes, não com títulos.

  • A empatia foi o canal que abriu espaço para o milagre.

Aplicação:
Na escola, no trabalho, na internet — sua empatia pode ser o sermão que alguém precisa ouvir.

Frase de impacto:
"Você não precisa de um microfone para ser uma voz de Deus."


IV. A Cura Vem Pela Graça

Texto: 2 Reis 5:14

  • Naamã tentou comprar a cura — mas ela veio pela obediência e fé.

  • O Jordão representa humilhação e rendição.

  • A empatia da jovem foi o primeiro passo para a cura de Naamã.

Aplicação:
Quantos jovens hoje buscam cura em prazeres, status, drogas, relacionamentos?
Só Cristo cura — e muitas vezes, usa nossa empatia como ponte.

Frase de impacto:
"A graça não se compra — se recebe com fé e humildade."


V. Cristo: O Profeta Maior

Texto: Hebreus 1:1-2

  • Eliseu é sombra; Cristo é a realidade.

  • A jovem apontou para Eliseu; nós apontamos para Jesus.

  • Ele é o único que cura corpo e alma — e nos manda amar como Ele amou.

Aplicação:
Tudo o que fazemos — estudos, redes sociais, amizades — deve apontar para Cristo com empatia.

Frase de impacto:
"Não viva para ser notado — viva para que Cristo seja conhecido através da sua empatia."


Conclusão

  • A história da jovem escrava nos ensina que não é preciso ter nome, palco ou posição para ser usado por Deus. Basta ter um coração disponível, uma fé viva e uma empatia que reflete o amor de Cristo.

  • Ela não foi a protagonista da cura — mas foi a ponte. E Deus está procurando pontes hoje. Jovens que não vivem para serem notados, mas para que Cristo seja conhecido. Jovens que não se escondem atrás da dor, mas que deixam a dor se transformar em compaixão. Jovens que não esperam aplausos, mas que vivem para obedecer ao mandamento do amor.

A história da jovem escrava em 2 Reis 5 é curta, mas poderosa. Ela não tinha nome, não tinha liberdade, não tinha status — mas tinha algo que muitos jovens hoje estão perdendo: uma fé viva e uma empatia que reflete o coração de Deus.

Ela poderia ter se calado. Poderia ter se vingado com o silêncio. Poderia ter dito: "Que ele sofra, como eu sofro." Mas não. Ela escolheu a compaixão. Ela escolheu ser ponte. Ela escolheu apontar para Deus.

E essa escolha mudou tudo.

Naamã foi curado. Um general estrangeiro reconheceu o Deus de Israel. E tudo começou com uma menina que decidiu obedecer ao mandamento do amor — mesmo sem aplausos, mesmo na dor, mesmo no anonimato.

Reflexão para os jovens:

Hoje, muitos jovens vivem em busca de palco, likes, seguidores, reconhecimento. Mas Deus está procurando corações que digam:

"Senhor, eu não quero ser o centro — eu quero ser a ponte."

Ele está chamando jovens que:

  • Não esperam estar prontos para serem usados — mas se entregam agora.

  • Não vivem para serem vistos — mas para que Cristo seja revelado.

  • Não guardam mágoas — mas oferecem cura.

  • Não se escondem na dor — mas deixam a dor se transformar em missão.

Apelo direto ao coração:

"Você está disposto a ser como essa jovem?
A viver com uma fé que aponta para Cristo, com empatia, mesmo sem aplausos, mesmo na dor, mesmo no anonimato?"

"Você está pronto para ser usado por Deus — não quando tudo estiver perfeito, mas agora, exatamente onde você está?"

Convite à oração:

"Senhor, eis-me aqui.
Usa minha vida como ponte para o Teu amor.
Que minha fé seja viva, minha empatia sincera, e meu coração totalmente Teu.
Que eu não viva para ser visto — mas para que Tu sejas revelado.
Que minha dor não me cale, mas me envie.
Que minha juventude não seja desperdiçada em vaidade, mas consagrada em missão."




A Missão Começa com um Chamado:

Texto Base: Gênesis 12:1-3

"Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação, e te abençoarei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra."

Introdução: "Quando Deus Diz: Saia"

Imagine acordar um dia e ouvir Deus dizer: "Deixe tudo o que você conhece. Saia da sua terra, da sua cultura, da sua zona de conforto — e vá para um lugar que Eu ainda vou te mostrar."

Foi exatamente isso que aconteceu com Abraão. Ele não recebeu um mapa. Não teve garantias humanas. Apenas uma voz, uma promessa e um chamado.

Esse chamado não era apenas sobre geografia — era sobre missão. Era sobre fazer parte de algo muito maior do que ele mesmo. Era sobre ser instrumento de Deus para abençoar todas as famílias da terra.

E aqui está a verdade que precisamos ouvir hoje:
A missão de Deus no mundo não começa com estratégias humanas, mas com um chamado divino. Um chamado para sair. Para confiar. Para apontar para Cristo.

A história de Abraão não é apenas um relato antigo — é um espelho para nós. Porque o mesmo Deus que chamou Abraão continua chamando hoje. E Ele está chamando você.

Neste sermão, vamos mergulhar na origem da missão de Deus, entender como ela se cumpre em Cristo, e descobrir o que significa viver como jovens chamados para abençoar as nações.

I. A Missão Começa com o Chamado de Deus - "Sai da tua terra…" (v.1)

Deus é o agente da missão. Não é Abraão quem decide ir — é Deus quem chama. Essa iniciativa divina revela que Deus é o sujeito da missão.

Ele é quem chama, quem envia, quem conduz. A missão não é um projeto humano para Deus, mas o projeto de Deus para a humanidade. Desde o Éden, quando o Senhor busca o homem caído (Gn 3.9), até o envio do Cordeiro para salvar o mundo (Jo 3.16), vemos que a missão é uma expressão do amor ativo de Deus.

O chamado é disruptivo: Ele rompe com a normalidade, exige deixar o conforto, a cultura, a segurança. O chamado de Deus a Abraão em Gênesis 12.1 é radical:

"Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei."

Deus não apenas convida Abraão a uma nova jornada — Ele exige uma ruptura com tudo o que é familiar:

- "Tua terra": o lugar de conforto e estabilidade.

- "Tua parentela": os laços familiares e sociais que moldavam sua identidade.

- "Casa de teu pai": a segurança econômica, cultural e espiritual de sua origem.

O chamado de Deus desestabiliza. Ele nos tira do previsível para nos colocar no terreno da fé. A missão começa com um deslocamento — não apenas geográfico, mas existencial.

O Chamado que Rompe o Mundo. Jesus é o modelo supremo desse chamado disruptivo. Ele deixou a glória eterna do Pai para habitar entre nós (Fp 2.6-8). Sua encarnação é o maior "êxodo" da história:

"Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se..." (Fp 2.6)

Ao chamar seus discípulos, Jesus repete o padrão de Gênesis 12:

"Vinde após mim..." (Mt 4.19)

Eles deixaram redes, barcos, famílias, profissões — tudo — para segui-lo. O chamado de Cristo não é um convite para ajustar a vida, mas para recomeçá-la sob um novo senhorio.

Implicações Espirituais

O chamado de Deus confronta três ídolos modernos:

- Conforto: Vivemos em uma cultura que idolatra o bem-estar. Mas o chamado de Deus frequentemente nos leva a lugares de desconforto, onde a dependência d'Ele é total.

- Cultura: O discipulado exige contracultura. Seguir Jesus é nadar contra a corrente do mundo (Rm 12.2), rejeitando valores que contradizem o Reino.

- Segurança: A fé não é ausência de risco, mas confiança em Deus no meio da incerteza. Como Abraão, somos chamados a caminhar sem saber o destino, mas confiando no caráter de quem chama.

Frase de impacto: "A missão não começa com um mapa — começa com um chamado."

II. A Missão Tem um Propósito Redentor - "Em ti serão benditas todas as famílias da terra." (v.3)

Essa bênção não é apenas geopolítica — é redentora. Deus está iniciando um plano de salvação que culmina em Cristo. A terra é apenas um sinal; o propósito é formar um povo santo, por meio do qual todas as nações seriam alcançadas.

Essa promessa é reafirmada ao longo da história bíblica:

  • - Em Gênesis 15, Deus sela a aliança com Abraão.

  • - Em Gênesis 17, Ele promete descendência e aliança perpétua.

Em Gálatas 3.16, Paulo revela o cumprimento final: "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente... e a teu descendente, que é Cristo."

Cristo é o verdadeiro herdeiro da promessa. Ele é a bênção para todas as nações. A missão de Abraão aponta para a missão de Cristo — e a nossa missão é continuar apontando para Ele.

Missões não são sobre "fazer algo para Deus", mas sobre participar do que Deus já está fazendo em Cristo. É sobre levar a bênção do Evangelho a todos os povos.

Frase de impacto: "A missão não é nossa — é de Deus. Nós apenas seguimos o Cordeiro por onde quer que vá."

III. A Missão Requer Fé e Obediência - "E partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito…" (v.4)

A missão começa com obediência, mesmo sem saber o destino: "para a terra que eu te mostrarei".

Em Gênesis 12.1, Deus diz a Abrão: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei."

Note o tempo verbal: "mostrarei" — futuro. Deus não revela o destino de imediato. Ele exige fé antes de dar detalhes. A missão começa com um passo no escuro, sustentado apenas pela confiança em quem chama. Obediência precede clareza.

Essa dinâmica é recorrente nas Escrituras:

- Noé construiu a arca sem nunca ter visto chuva (Gn 6.13-22).

- Moisés voltou ao Egito sem saber como o faraó reagiria (Êx 3.10-12).

- Maria disse "Eis aqui a serva do Senhor" sem entender plenamente o que isso custaria (Lc 1.38).

- Jesus é o modelo supremo de obediência. Ele se fez servo e foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fp 2.8). No Getsêmani, mesmo diante da angústia, Ele ora: "Não se faça a minha vontade, mas a tua." (Lc 22.42)

A missão de Jesus não foi traçada com um mapa, mas com submissão ao Pai. Ele caminhou em obediência, mesmo quando o caminho levava à cruz. A obediência de Cristo é a base da nossa salvação — e o padrão do nosso discipulado.

Implicações Espirituais

- Obediência é o primeiro passo da missão. Não é o conhecimento total do plano que nos move, mas a confiança no caráter de Deus.

- A fé verdadeira se manifesta na prática. Como disse Tiago: "A fé sem obras é morta" (Tg 2.17). A obediência é a linguagem da fé. - A obediência nos transforma.

Cada passo dado em fé nos molda à imagem de Cristo. O caminho da missão é também o caminho da santificação. A missão começa quando dizemos "sim" antes de saber o "onde". Porque mais importante do que o destino é quem está nos chamando.

A fé reformada entende que a obediência é fruto da graça. Deus chama, capacita e sustenta. A missão não é movida por mérito, mas por graça soberana.

Aplicação: Você não precisa ter todas as respostas para obedecer. Você precisa confiar no Deus que chama. Jovem, Deus pode te usar — não porque você é forte, mas porque Ele é fiel.

Frase de impacto: "A fé que obedece é a fé que confia no caráter de Deus, não nas circunstâncias."

Conclusão: Um Chamado para Ir

A história de Abraão não é apenas o ponto de partida da nação de Israel — é o marco inaugural da missão de Deus no mundo.

Quando Deus disse "Sai da tua terra…", Ele não estava apenas tirando um homem de sua zona de conforto. Ele estava iniciando um plano eterno de redenção que culminaria em Cristo e se estenderia até os confins da terra.

Abraão foi chamado para ir — e ele foi. Não porque sabia o caminho, mas porque conhecia Aquele que o chamava. Ele partiu sem mapa, mas com uma promessa. Sem garantias humanas, mas com a Palavra de Deus. E essa mesma voz que ecoou em Ur dos Caldeus ainda ressoa hoje, chamando homens e mulheres, jovens e adultos, a se levantarem e irem.

Você pode não saber para onde Deus vai te levar. Pode não ter todos os recursos. Pode até se sentir pequeno. Mas se você tem Cristo, você tem tudo.

Apelo:

"Você está disposto a sair da sua zona de conforto?
A deixar o que é familiar para seguir o chamado de Deus?
A ser uma bênção para as nações, apontando para Cristo com sua vida, seus dons, sua juventude?"

Meus irmãos e irmãs amados,

Ao final desta mensagem, não posso deixar de abrir meu coração com vocês. Hoje, mais do que um encerramento de culto, vivemos um marco: 14 anos de caminhada pastoral juntos. Foram anos preciosos, nos quais Deus nos permitiu crescer, servir e amadurecer como família da fé.

Foi aqui, na IPI Cidade Jardim, que o Senhor nos deu a graça de desenvolver o nosso chamado pastoral. Aqui, acertamos e erramos, ensinamos e aprendemos, choramos e celebramos. Mas, acima de tudo, aqui amamos — e fomos profundamente amados.

Cada ministério, cada célula, cada visita, cada reunião de oração, cada culto — tudo isso foi parte de um processo divino. E eu louvo a Deus por cada vida que caminhou conosco. Agradeço de coração ao Conselho desta igreja, aos líderes com quem tive o privilégio de servir, e a cada irmão e irmã que, com fé e dedicação, ajudou a construir uma igreja viva, operosa e apaixonada por Jesus.

Hoje, mais uma vez, ouvimos a voz do Senhor que chama. E, como Abraão, partimos sem saber todos os detalhes, mas confiando plenamente naquele que nos chama. Estamos saindo em obediência, crendo que essa obediência gerará frutos — tanto para nós e nossa família, quanto para esta amada igreja.

A missão continua. A promessa de Deus não termina com uma despedida — ela se renova. Porque a missão não começa com um mapa — começa com um chamado. E o Deus que chama é fiel para cumprir tudo o que prometeu.

Por isso, não dizemos "adeus", mas "até logo", com o coração cheio de gratidão e esperança. Que Cristo continue sendo o centro desta igreja. Que a chama da missão continue acesa. E que, juntos, mesmo em caminhos diferentes, continuemos apontando para Ele — o verdadeiro herdeiro da promessa, a bênção para todas as nações.

Muito obrigado, IPI Cidade Jardim. Vocês sempre farão parte da nossa história.

Oração final:

"Senhor, como chamaste Abraão, chama-nos hoje.
Dá-nos fé para obedecer, coragem para partir, e paixão para anunciar Cristo às nações.

Que em nós, assim como em Abraão, todas as famílias da terra sejam abençoadas."